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Maurice RAVEL |
Alguns já devem ter se perguntado se a nossa música moderna se distingue fundamentalmente da música moderna das outras épocas. Sabe-se que a música moderna, na verdade, se impõe dificilmente em todas as épocas e que os conservadores profissionais, com seu grande público contemporâneo, a definem como incoerente, dissonante, de alarido...
Também o medo de ser assimilado aos fósseis que condenaram MONTEVERDI, WAGNER ou DEBUSSY incita os literatos a considerar
qualquer estética nova como
o classicismo de amanhã. Consideram a história como sempre recorrente e não se acham ingênuos para cair no ridículo dos críticos do passado. Qualquer criador que se distinga dos contemporâneos será reconhecido como um precursor.
CONTESTAÇÃO e DIVERSIDADE
Ora, a música do século XX é diferente da música mderna das outras épocas! Não considerar essa premissa só faz com que se acentue ainda mais sua singularidade... Há na história, desde DEBUSSY, uma contestação geral do sistema e das regras acadêmicas: principio das relações tonais, desenvolvimento temático, formas tadicionais. Aos músicos desta época parece que a imitação dos modelos, sobre a qual se baseava o ensino, é estéril. Para DEBUSSY*: "parecia que, deste Beethoven, a prova da inutilidade da sinfonia estava feita." Em outras palavras, BEETHOVEN, que aliás DEBUSSY admirava, mostrou a inutilidade dos quadros tradicionias, ultrapassando-os: ensina a não imitar os modelos.
Contudo, no século XX, a contestação dos modelos tornou-se tão grande e profunda que a assimilação de novas estéticas e técnicas implicou completa ruptura. O ensino, fundamentado na experiências, obriga-se a ser tradicional - "disciplinas". O caráter conservador dos conservatórios é antes uma evidência.
Com efeito, trata-se de uma instituição destinada a conservar um sistema musical, suposto em estado perfeito, e a transmiti-lo pelo ensino. Do mesmo modo, o ensino da música no século XX nunca corresponderá à realidade musical contemporânea. Os aprendizes compositores aprenderiam regras que talvez não fossem utilizar e, assim, seriam mal preparados para sua atividade na música e na sociedade.
Aliás, poderia ser de outra maneira? Nas outras épocas, era possível definir uma "linguagem" musical comum aos grandes compositores de uma ou várias gerações. Os mais audaciosos transformavam, periodicamente, este meio em proveito das gerações seguintes. Desde o início do século XX, pelo contrário, existem ao mesmo tempo técnicas ou mesmo sistemas musicais inconciliáveis, incompatíveis, irredutíveis entre si: sistema tonal "enriquecido", politonalidade, dodecafonismo serial, músicas em quarto de tom (ou outras frações de tom), sistema modal alargado, música electroacústica, músicas aleatórias ou probabilísticas,
jazz, música decorativa ou de grande consumo (sistema tonal empobrecido), etc.
Esta diversidade não teve equivalente na história. Se põe difíceis problemas insolúveis à prática musical. Certas técnicas tornam a música inexequível, não somente pelos amadores, mas também pelos profissionais não especializados. A música de hoje permite imaginar reuniões improvizadas de música de conjunto, como MOZART organizava para fazer ouvir a HAYDN os quartetos que lhe dedicava... Ou MENDELSSOHN para decifrar novos lieder de SCHUMANN, acompanhado por CLARA.
Incontestavelmente, a música moderna do século XX apresenta traços característicos sem precedentes: diversidade das tendências, pôr em questão princípios fundamentais, incomunicabilidade imediata, desacordo do ensino, extraordinários meios de difusão cujo controle permite orientar a cultura coletiva e agir na história por uma seleção arbitrária....
A falta de uma grande idéia diretiva comum, a procura de uma técnica individual de composição toma, nos nossos dias, uma importância fora do comum, traduzindo ao mesmo tempo o isolamento do artista na sociedade e uma tomada de consciência do seu papel histórico. Na incerteza do destino individual, o artista tenta escapar ao destino de classe por uma busca de originalidade estética.
Mas como a crítica histórica moderna lhe faz parecer que a história tem um sentido, procura advinhar o lugar que lhe reserva:
é preciso que a sua originalidade se exprima por uma modernidade profética, que possa ser o classicismo de amanhã.
[*] Claude-Achille Debussy (Saint-Germain-en-Laye, França, 22 de agosto de 1862 - Paris, 25 de março de 1918) fue un compositor francês y una figura central na música européia do final do século XIX e comienzos del siglo
xx, junto a Maurice Ravel, una de las figuras más prominentes da música impressionista, aunque al propio compositor no le gustaba este término cuando se aplicaba a sus composiciones. Fue nombrado Caballero de la Legión de Honor en 1903.